quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

CAVACO E OS POBREZINHOS

Cavaco Silva (Sr. Presidente, para os amigos) tem andado muito com os pobrezinhos na boca, ultimamente. Fontes próximas da Presidência já revelaram que o Sr. Presidente não se preocupava tanto desde que a sua esposa Maria (reformada como professora do ano zero (!) de Literatura Portuguesa na Universidade Católica) se engasgou com uma cavaca das Caldas, ou quando o Papa vacilou no nome de um dos netos do presidente. No fim, Cavaco suspirou de alívio: o Papa não se enganara. Aliás, para Cavaco, um Papa nunca se engana…nem tem dúvidas…(onde é que já ouvi isto?)
Cavaco foi Primeiro-Ministro de todos os portugueses durante o tempo suficiente para distribuir correctamente os tais dinheiros vindos da Europa, e para fazer as reformas necessárias ao desenvolvimento do país; todavia, como é sabido, algo mais importante se interpôs entre ele e esses nobres propósitos: as obras públicas, a criação de pseudo universidades em todos os cantos do país, e o betão. Altos princípios, portanto. Cavaco tem bom coração; é amigo do seu amigo: catedráticos arrivistas, empresários ávidos de dinheiro e empresas construtoras. (Para além de todos os seus incontáveis feitos, (entre os quais se contam… agora não me ocorre nenhum, tenho fraca memória…) Cavaco ainda ficará na história por ter sido a força motriz que lançou uma nova classe social: a dos burgessos; mais conhecidos como novos-ricos. Nouveau-riche, em Francês, para dar um toque de irrepreensível cultura sociológica.
Há uns anos atrás, Cavaco não estava muito sensibilizado para esta questão da pobreza e dos que têm menores rendimentos. Pode-se dizer que a energia dos seus verdes anos (sim, pois se um agricultor é jovem até aos cinquenta, Cavaco, enquanto Primeiro, estava na força da juventude) se encontrava toda ela dirigida para a criação de dinheiro que seria usado pelos amiguinhos, dele e dos partidos, (para ajudar os pobrezinhos, claro). Sempre a fazer o bem, aquele bom cristão.
Todavia, tempus fugit, como muito bem diziam os latinos, e Cavaco, com a lágrima no canto do seu olho manhoso, lá vai dissertando sobre a pobreza daqueles que recebem cem vezes menos do que ele à custa da sua tri-reforma. (Tadinhos!). Se Cavaco ganhar as eleições, desta vez é que ele vai ajudar os pobrezinhos. As outras hipóteses que teve, não contam. Se ganhar as eleições, não lhe ofereçam cavacas das Caldas, lembrem-se que a senhora Maria é muito engasgadiça. (Tadinha!)
Noel Petinga Leopoldo

P.S. Ruy Belo - In memoriam
SONETO SUPERDESENVOLVIDO

É tão suave ter bons sentimentos
consola tanto a alma de quem os tem
que as boas acções são inesquecíveis momentos
e é um prazer fazer bem

Por isso se no verão se chega a uma esplanada
sabe melhor dar esmola que beber a laranjada
Consola mais viver assim no meio de muitos pobres
que conviver com gente a quem não falta nada

E ao fim de tantos anos a dar do que é seu
independentemente da maneira como se alcançou
ainda por cima se tem lugar garantido no céu
gozo acrescido ao muito que se gozou

Teria este (se não tivesse outro sentido)
ser natural de um país subdesenvolvido

Ruy Belo

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